Ser CALAMBAUENSE, é ter berço diferente! É recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.


Contos e causos de Presidente Bernardes

Este espaço foi criado para descobrirmos "tesouros da Literatura" de Presidente Bernardes, pessoas que têm o dom de encantar as outras com suas palavras; palavras na qual embaralhadas umas nas outras tranformam - se em singelas frases, que muitas vezes tocam não só nosso coração mas também nossa mente e que nos faz refletir as maravilhas guardadas nessa cidade maravilhosa.

Aqui você pode escrever, inventar e postar poesias, crônicas, memórias antigas que estão guardadas em sua mente loucas para serem do conhecimento de todos, aqui o espaço é seu...

 

"...Quando alguém encontrar seu caminho, não pode ter medo. Precisa ter coragem suficiente para dar passos errados.

As decepções, as derrotas, o desânimo são as ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada".
                                                                                                                                          


Contos, causos, poesias, pensamentos...

Data: 31/10/2013

De: Verônica Almeida

Assunto: Eu não faço poesia

Eu não faço poesia

Ouçam, senhoras e senhores!

Poesia é prosa rimada
com passarada, madrugada
ou romance de outono
e tantas noites sem sono

Alma que grita
aos quatro cantos, aflita
chama que tremula ao vento
um encanto, ou um lamento

Poesia é alma lírica, afinada
que as vezes brota do nada
feito chuva de verão
É dor, desatino, harmonia
compondo uma melodia
que arrebata o coração

Ah! Poeta eu fosse, e cantador
da magia do amor
e com toda primazia

cantava todas as cores
fazia rima das flores

Minha senhora, meu senhor
eu escrevo a minha dor
mas não faço poesia...

Veronica Almeida

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Data: 30/10/2013

De: JCbernardes

Assunto: Deus na Guia e o Choro da criança

Deus na Guia e o Choro da Criança

Raimundo Peão, como o Tonho nos Tabuões, ou o Zé Bidico são pessoas que marcaram fortemente a sua passagem por entre aqueles que os conheceram. Como serviçal, amansador de cavalo e burro bravo, tropeiro e condutor de boiada, picador de pedra de moinho, carreiro e contador de casos, ou mesmo tratador de porco e tocador de engenho de rapadura, Raimundo Peão era inigualável. Desde antes de sua viagem épica em companhia do Seu Luiz a São Manuel dos Pelados na região de Senador Firmino, ele era o serviçal leal e pau pra toda obra. A sua lembrança mais remota me remete aos 3 ou 4 anos quando tiritando de frio, em espesso nevoeiro e enrolado em cobertor, eu estava sentado no travesseiro sobre a cabeça do arreio em que ele montava a mula Moeda, a caminho do Jubileu do Bacalhau.

Mas, era como carreiro que as minhas lembranças são mais marcantes. Quem é capaz de esquecer do cantar do carro de boi, tendo-o ouvido. Para o som mais agudo apertava-se o cocão do eixo, ou o contrário para um som mais grave. Havia uma infinita combinação sinfônica, na medida em que o experiente carreiro apertava ou afrouxava os cocões, esquerdo ou direito. Era possível identificar, de longe, qual carro de boi, qual carreiro se aproximava. Era mesmo uma marca registrada. Nisto o Raimundo era mestre.

A aguilhada não possuía ferrão, em vez dele um conjunto de argolas como guizo. Era bastante para as juntas de boi fazerem o que era preciso ser feito. Recordo-me da famosa junta de coice: Barão e Carinhoso. O Barão ocupava o lado direito e o Carinhoso o esquerdo. É aí que acontecia a magia do iniciar um trabalho, especialmente um trabalho pesado. Altaneiramente o Raimundo Peão subia no cabeçalho, tirava o chapéu e dizia em voz alta:

- Deus na Guia, - e ao balançar a aguilhada, completava -, abre pra fora Barão! Entra Carinhoso! Vamo em frente!

É inesquecível.

O tempora! O mores! (*)

O tempo correu, muito tempo.

De repente alguém me diz: o Raimundo Peão está doente, internado no Hospital da Santa Casa, muito ruim.

A pessoa que me conduziu até ele, através de um longo e largo corredor apinhado de doentes deitados em colchões no chão pela enfermaria afora, disse-me: é este.

- Ei Raimundo, como tá você?

Barba por fazer, olhar avermelhado, distante e melancólico, ele me olha e demora a me reconhecer.

- Ô Zezé, que bom ver você.

Ao dizer isto, como uma criança desabou a chorar. Agachei para acarinhá-lo e também como uma criança desabei em choro.

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(*) Oh! Tempos! Oh! Costumes!

27.10.2013

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Data: 24/10/2013

De: JCBERNARDES

Assunto: Um Inesquecível dia dos Pais

Um Inesquecível Dia dos Pais

O aniversário da Magrelinha seria festejado juntamente com o dia dos pais, já que o Seu Luiz estava morando com um dos filhos e também casa dela, na Praça JK. Tudo em ordem e prático. As andanças do Seu Luiz não eram mais pujantes e ele tornara-se mais quieto, passando grande parte do dia de pijama, pensativo, envolto em longos silêncios, a contrastar com suas histórias, seus casos, suas batidas de xote, seus assobios e, principalmente, com sua incansável mania de andar a pé, a dar notícia de tudo. Tornou-se irreconhecível. Lembro-me de um de seus últimos arroubos de loucura: com alguns companheiros, ir até Piranga a pé, desde Belo Horizonte. Planejávamos, sem que ele soubesse, uma maneira de se colocar batedores a acompanhá-los na rodovia. Uma loucura! Mas, adveio a sua nova fase de vida.

O sábado amanheceu quente com as notícias da festa correndo céleres. 10:00 horas, 10 e 30. De repente tudo muda. O Seu Luiz sumiu! Como assim? Que aconteceu?

Sentado contemplativamente na varanda da casa, de pijama quando visto pela última vez, mansamente sai de casa e entra no ônibus normalmente estacionado no ponto final, quase defronte à casa, e lá se foi. Estabelece-se o caos.

No tumulto, alguém encarrega-se de percorrer os hospitais, incluindo o Medicina Legal. Um comandante da PM, amigo da família foi contatado, estabelecendo-se uma rede de informações através da cidade por intermédio de viaturas e pessoal de rua. No início da tarde, ainda em casa, fiz várias ligações telefônicas para Piranga e Conselheiro Lafaiete comunicando o fato e solicitando informações. Outras pessoas visitavam pontos conhecidos preferidos por ele. Solicitei a companhia do Bernardo e fomos vasculhar o centro da cidade. A partir da Rua da Bahia com Av. Afonso Pena, no sentido Rodoviária, percorremos todas as ruas num determinado perímetro, eu em uma ele em outra. Todas as viaturas policiais e policiais de rua abordados, relatavam saber do ocorrido.

Num determinado ponto resolvemos:

- Não, não é lógico o que estamos fazendo. Um idoso de pijama andando pela rua afora e ninguém dá notícia. Algo está errado. Vamos pra casa.

A casa da Praça JK tornou-se uma confusa assembleia onde todo o mundo falava ao mesmo tempo. Mas, a minha preocupação tinha outro foco. No horizonte formava-se uma atemorizante tempestade, e, para complicar, um dos motoristas do ônibus do ponto final, informou que alguém viu o Seu Luiz na cidade a apanhar o ônibus Pilar. Esse bairro fica além do Belvedere, depois do Anel Rodoviário. Local ermo e acidentado. Em apreensivo silêncio, eu imaginava o que poderia acontecer quando aquela tempestade desabasse. Era irracional. Aos poucos o silêncio foi tomando conta de todos. O cansaço, a tristeza, a incerteza, o pavor... Apenas o telefone falava. Cinco horas. Cinco e meia. Alguém explode.

- O Seu Luiz está no Carrefour do BH Shopping.

Era o Didi, de plantão em casa dando a notícia recebida do Carrefour.

Como o Bernardo e eu entramos no carro e pelo emaranhado Rua Patagônia alcançamos o Belvedere e o Carrefour em apenas 10 segundos, são coisas do outro mundo que não podem ser descritas. O Bernardo ficou no carro estacionado quase dentro da porta de entrada de serviços do supermercado. No andar de cima, em um amplo salão me apresentei a alguém que já esperava pelo assunto. Em uma longa mesa lá estava o Seu Luiz lindamente sentado, de pijama, tomando iogurte e comendo alguns biscoitos e outras guloseimas, rodeado por várias moças.

- Ô Seu Luiz, tá todo mundo preocupado e aguardando você. Que aconteceu? Vamos pra casa!

- Vai não, Seu Luiz - falou uma das moças - fica conosco. Tem mais iogurte aí!

Rapidamente aquele senhor que me recebeu disse que seus olheiros o reparou andando pelo salão do supermercado, abordando-o. Em várias conversações, depois de muito tempo, ele relatou o nome completo do seu filho mais velho. Não houve dificuldade ao encontrar o telefone.

Agradeci a todos, e sob protestos das moças descemos a escadaria. Entramos no carro já recebendo os pingos grossos da chuva que chegava. Tudo escureceu sob forte aguaceiro. Ao entrar na garagem da casa, já noitinha e sob indizível tumulto e correria, lembrei-me do diálogo final no Carrefour:

- Por favor, senhor, há alguma despesa a ser paga?

- Que é isso cara! Foi honroso ter o Seu Luiz em nossa companhia.

- Muito obrigado.

Outubro/2013. JCBERNARDES

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Data: 26/09/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: Pingos de nossa história

PINGOS DE NOSSA HISTÓRIA

Distrito de Calambau

“Pertenceu antes à freguesia de Piranga a paróquia de Santo Antônio de Calambau, instituída em 1868 por lei provincial nº 1572.
A paróquia de Santo Antônio de Calambau da arquidiocese de Mariana e município de Piranga, já contava, em 1800, uma população de 3.119 habitantes dos quais 1.564 homens e 1.555 mulheres, conforme refere a Synopse do recenseamento de 1.800 (pag.61).
O distrito de Santo Antônio de Calambau possui um igreja, uma agência de correio, uma farmácia,uma banda de música, casas comerciais e alguma lavoura.
Recebe malas de correio, de cinco em cinco dias, pela estação da cidade de Ubá (Estrada de Ferro Leopoldina), com escala por Conceição do Turvo.
Possui este arraial, desde 1906,a Biblioteca Calambauense, fundada pelo Sr. Carlos Pinto de Castro, sob o plano da Laminense, instituida pelo operoso mineiro Sr. Napoleão Reys.”

Fontes: Annuário de Minas Gerais-
Os Antepassados- A sua Terra- Pedro Maciel Vidigal
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Transcrito por Murilo Vidigal Carneiro
Calambau , setembro/2013

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Data: 09/09/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: MEMORIAL DOM GROSSI

MEMORIAL DOM GROSSI - À MEMÓRIA DE UM APÓSTOLO



Desde que chegou em nossa comunidade , em 20 de abril de 1941, substituindo ao insigne sacerdote Cônego Francisco Lopes da Silva (Padre Chiquinho), Padre José Nicomedes Grossi iniciava em nosso município uma trajetória que iria torná-lo uma pessoa inesquecível em nossa paróquia. Durante os quase vinte anos de seu paroquiato, Pe. Grossi zelou pela religiosidade de nosso povo. Sonhava edificar em nossa cidade um grandioso templo em louvor ao nosso padroeiro Santo Antônio. Padre Grossi encarnava as palavras do Papa Francisco dirigidas ao povo brasileiro, quando esteve no Brasil, este ano, durante a Jornada Mundial da Juventude:- “ Não trago ouro nem prata, mas lhes trago o que de mais valioso me foi dado: Jesus Cristo” .

Com o seu espírito empreendedor, Padre Grossi, em 01 de março de 1950, iniciou a construção do novo templo. Com muitos sacrifícios a obra foi sendo realizada. Ricos e pobres tinham a mesma alegria em poder ajudar no empreendimento. O que fez grande sucesso, principalmente no meio rural, foi a idéia do Padre de instituir a campanha dos “ovos de sábado”, que funcionava da seguinte forma: -todos os ovos que as galinhas do município botassem aos sábados, seriam vendidos e o dinheiro empregado na construção da Igreja. Essa iniciativa contaminou os vizinhos de outros municípios e muitos deles aderiram, também, à campanha. Outra criação do Padre Grossi, que deu muito resultado foi a “procissão das telhas”, que consistia no seguinte:- o caminhão chegava com as telhas que eram descarregadas no outro lado do rio. Os fiéis, em procissão, levavam as telhas para o local da construção, fazendo uma doação, em dinheiro, correspondente ao valor das telhas carregadas. Assim, de uma forma ou de outra, todos colaboravam, e o templo acabou sendo construído, tornando-se o orgulho do povo de nossa terra, pela sua grandiosidade e beleza.

Durante a construção da nova matriz, em momento algum, o Padre Grossi descuidou-se do zelo espiritual do seu rebanho, dando continuidade ao grande trabalho do padre Chiquinho.

Padre Grossi foi, também, um grande incentivador da cultura em nossa comunidade. Na casa paroquial, havia uma boa biblioteca frequentada por muitas pessoas. Incentivou o teatro local que tinha grande participação de jovens e crianças. A Corporação Musical Santo Antônio teve nele um grande incentivador.

O Papa João XXIII , em 01 de setembro de 1962, houve por bem elegê-lo Bispo de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, incluindo o seu nome no rol dos Príncipes da Igreja Católica. Na Lapa, soube também, com dedicação, pastorear as suas ovelhas.

A geração atual sabe o quanto Dom Grossi foi importante. E, para que seja sempre lembrado pelas futuras gerações, foi-lhe dedicado um memorial, hoje inaugurado nesta Capela, junto ao seu túmulo.

Na comemoração do 57° ano da inauguração de nossa Igreja, a criação do Memorial Dom Grossi torna-se o evento principal.

Quando gostamos de uma pessoa, parente ou amiga, procuramos guardar dela uma lembrança. É o que estamos fazendo com o Dom Grossi.

O que é este memorial? É uma forma de preservarmos a sua lembrança, a sua memória, neste local, onde ele permanecerá todo o tempo, através de fotos, paramentos, livros, documentos e muitas outras coisas que nos farão lembrar sempre da grandiosa figura do nosso Padre Grossi, o nosso Bispo Dom José Nicomedes Grossi.

Desta forma os seus ex paroquianos quiseram demonstrar o quanto o estimam. Que neste dia, cada um faça de seu coração um memorial, guardando nele as boas recordações do nosso venerando Bispo.

Murilo Vidigal Carneiro – Calambau, setembro 2013

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Data: 02/09/2013

De: Jose Luiz

Assunto: Romaria

Murilo,como você já sabe, eu gosto muito de ler os seus textos.
Principalmente quando se trata de coisas da roca. Por que tenho muito saudade de tudo isto. sempre sonho com as coisas do nosso meio rural. Estive lendo sobre as romarias que ia de calambau congonhas e bacalhau participar do jubileu do senhor bom Jesus. lembre mim de um causo que achei muito engraçado quando morávamos no sitio la tinha um boi muito bravo, que se chamava diamante. certo dia duas destintos senhoras viam conversando pela estrada, e o boi estava deitado a beira da estrada. o boi ouvindo a conversa delas se levantou. Como elas sabia que o boi era bravo correram e o boi partiu atrás. a que ia correndo na frente viu a cerca de arame passou de baixo. A outra vinha atrás foi passar também mais sua saia agarrou no arame e ela fico ali presa e o boi chegando cada vês mais perto. E ela gritou !
Mim vale bom jesus de congonhas. A outra que estava do outro lado da cerca falou. Pede ao o bom jesus de bacalhau por que esta mais perto.
Eu Jose Luiz peso ao bom jesus que te de muitas expirações para você continuar escrevendo muitas coisas boas. Um grande abraco do seu conterrâneo. Jose Luiz.

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Data: 01/09/2013

De: Jose Luiz

Assunto: Romaria

Murilo,como você já sabe, eu gosto muito de ler os seus textos.
Principalmente quando se trata de coisas da roca. Por que tenho muito saudade de tudo isto. sempre sonho com as coisas do nosso meio rural. Estive lendo sobre as ramarias que ia de calambau congonhas e bacalhau participar do jubileu do senhor bom Jesus. lebre mim de um causo que achei muito engraçado quando morávamos no sitio la tinha um boi muito bravo, que se chamava diamante. certo dia duas destintos senhoras viam conversando pela estrada, e o boi estava deitado a beira da estrada. o boi ouvindo a conversa delas se levantou. Como eles sabia que o boi era bravo correram e o boi parte atrás. a que ia correndo na frente viu a cerca de arame passou de baixo. A outra vinha atrás foi passar também mais sua saia agarrou no arame e ela fico ali presa e o boi chegando cada vês mais perto. E ela gritou !
Mim vale bom jesus de congonhas. A outra que estava do outro lado da cerca falou. Pede ao o bom jesus de bacalhau por que esta mais perto.
Eu Jose Luiz peco ao bom jesus que te de muitas expirações para você continuar escrevendo muitas coisas boas. Um grande abraco do seu conantera. Jose Luiz.

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Data: 04/09/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: Re:Romaria

Oi Zé. Fico feliz em saber que você gosta dos meus textos, principalmente quando abordo os temas da roça.Sei que você gosta de escrever, portanto já é tempo de você publicar os seus textos. Sei também que você gosta de poesia.Por que não publicá-las? Gostei do caso que você relatou. Obrigado. O meu abraço.Murilo

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Data: 05/08/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: UMA JORNADA DE ENCONTROS

UMA JORNADA DE ENCONTROS!

Cacá Diegues

Tenho acompanhado a Jornada Mundial da Juventude ao longo

desta semana e, pelo menos até o momento em que escrevo

este texto, o faço com surpresa e admiração. Apesar das

vicissitudes de transporte e circulação, há muito tempo não via

as ruas da cidade tão alegremente movimentadas e coloridas.

Mesmo por onde o Papa não é esperado passar, bandos de moças

e rapazes carregam bandeiras de seus países e cantam hinos

em diversas línguas, num carnaval de rua cosmopolita, sereno e

empolgante. Confesso que até me emocionei ao ver casualmente,

no calçadão da Avenida Atlântica, um inesperado encontro de

confraternização entre um grupo de jovens iranianos com a

bandeira de seu país e outro de americanos com a dos Estados

Unidos.

Não é preciso ser católico, nem ter qualquer religião, para

se encantar com o que está se passando no Rio de Janeiro.

Estamos assistindo a uma experiência daquilo que o rabino

Abraham Skorka, coautor de livro em parceria com o Papa

Francisco, "Entre o céu e a terra", chamou de "cultura do

encontro". Um encontro não é uma adesão ao outro, nem mesmo

a abertura de um diálogo em busca de alguma verdade única e

absoluta. Um encontro é apenas isso mesmo, a aproximação entre

pessoas, mesmo que elas não tenham as mesmas ideias, nem

estejam dispostas a pensar sobre o que pensam.

Um dos aspectos mais relevantes da Jornada tem sido o dos

diversos eventos inter-religiosos, uma busca sem tensão por

alguma coisa em comum entre crenças tão diversas. A busca

do abraço universal, do humano em cada fé. Assisti a reuniões

de peregrinos católicos de vários países com praticantes da

umbanda e do candomblé cariocas, no Estácio e em Caxias. E a

uma mesa de debates na PUC, na Gávea, da qual participavam

bispos, rabinos e xeques, com uma plateia lotada de jovens

católicos, judeus e muçulmanos. Nesses encontros, o que se

punha em discussão não era a verdade teológica de cada um, mas

a necessidade de paz, de entendimento e de amor num mundo tão

conturbado, inclusive por guerras religiosas.

Nunca acompanhei as Jornadas anteriores, nem sei mesmo do

que cada uma delas tratou no passado, em Roma, Colônia ou

Madri. Mas imagino que as novidades comportamentais trazidas

pelo novo Papa tenham influenciado a atmosfera do que está

acontecendo no Rio. Num livrinho de extrema pertinência

sobre suas ideias, "Fancisco de Assis e Francisco de Roma",

Leonardo Boff, um dos principais pensadores da Teologia da

Libertação, faz a pergunta que todos nós gostaríamos de poder

responder afirmativamente: "Uma nova primavera na igreja?"

No seu discurso em Aparecida, o Papa pode ter-nos respondido a

pergunta, quando pediu aos jovens que se deixassem surpreender

pela vida e que a vivessem em alegria. E ainda mais em sua fala

militante na favela de Manguinhos, quando exortou a juventude a

não perder a sensibilidade para as injustiças e para a corrupção.

É como se tivéssemos atraído para cá e tornado universal a

discussão do tema que hoje nos é mais caro.

A Igreja Católica, a primeira e mais antiga organização

globalizada do planeta, precisa responder às ânsias de

seu povo no século 21. Ela segue prisioneira de conceitos

anacrônicos sobre política social, drogas, moral sexual, aborto,

homossexualidade, celibato, pesquisas com células-tronco e

até "a forma de poder absolutista dos papas", como diz Boff.

Mas Francisco está certo quando diz que tudo começa com

o encontro. E ele sabe promover esse encontro: que homem

público brasileiro sairia ileso daquele engarrafamento que o

Papa enfrentou em sua chegada ao Rio, com a janela do pequeno

carro aberta e a disposição de cumprimentar a multidão que se

aproximava dele?

É ridículo e mesquinho reclamar de gastos públicos com a

Jornada e a vinda do Papa ao Brasil. Em primeiro lugar, porque

o estado não está só cumprindo obrigação protocolar, mas

também fazendo um investimento com retorno certo, produzido

pelo que deixa no Rio a multidão vinda do exterior e de outras

cidades do país. Além disso, o estado tem mesmo o dever de

investir no ordenamento, segurança e atendimento médico das

manifestações de massa realizadas na cidade, não importa de que

natureza. Assim como nem todo brasileiro é católico, nem todo

carioca é carnavalesco, e nem assim é justo contestar o que o

estado gasta com o carnaval. Mas para alguns, Rei Momo pode; o

Papa Chico, nem pensar.

Independentemente de qualquer profissão de fé, Francisco nos

anuncia o projeto de um mundo mais simples e mais humano. Um

mundo sem ostentação e sem pompa, sem a hegemonia irracional

da riqueza e do consumismo delirante que destrói o planeta e a

humanidade. Seu amor à esperança é comovente. "Não deixem

que lhes roubem a esperança", disse ele no Rio, aos participantes

da Jornada Mundial da Juventude, "sejam vocês mesmos os

portadores da esperança." Não é pouco que um líder mundial de

sua importância pense e fale desse jeito.

Cacá Diegues(Cineasta).

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Data: 03/08/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: A VELHA GARAPA

A VELHA GARAPA



A velha garapa era uma árvore que ficava à margem da estrada que ligava Calambau a Piranga, na zona rural Baía.

Nascida em 1700, presenciou, muitos fatos que ocorreram naquele local nos mais de trezentos anos de sua existência. Ficava cerca de setenta metros da margem do rio Piranga, do qual tinha uma visão privilegiada, principalmente, na época das “cheias”, quando as águas chegavam bem próximas de seu tronco.

Quando nova, viu por muitas vezes os índios puris da tribo dos botocudos, passarem por ali caçando ou, em suas canoas, pescando no rio Piranga. Gostava também de ver os guarás de cores avermelhadas, voando nas margens do rio.

Por volta de 1780, a garapa percebeu um grande movimento na outra margem do rio. Era a chegada dos bandeirantes paulistas que estavam ali, à procura de ouro. Construíram os seus ranchos e fizeram um córrego, desviando as águas de uma pequena cachoeira que existia logo abaixo daquele local. A água do córrego serviria para a lavagem do cascalho para separar o ouro. Nessa época já existia um povoado em um local denominado Guará Piranga em homenagem aos pássaros vermelhos que habitavam as margens do rio. De lá, vieram os exploradores de ouro que aqui chegaram, pois eles já estavam explorando as minas próximas àquela localidade.

A velha garapa ouviu quando os bandeirantes disseram que encontraram um local promissor logo abaixo, no lado esquerdo do rio e para tanto iriam desviar o córrego que era chamado pelos índios de “jurumirim”. Nesse local havia uma linda cachoeira e, mais tarde, o povoado que ali se formou passou a chamar-se Cachoeira do Jurumirim. Ouviu, também, que mais abaixo do rio, a uma légua distante, havia um local muito bonito que os índios chamavam de Calambau , que significava “lugar onde o mato é ralo e o rio faz curva”.
Passado algum tempo, os exploradores foram embora e começou a surgir no local denominado Calambau , um povoado. A ligação com Piranga (que já era um local bem povoado e cujo nome já não possuía o Guará) era pelo rio ou por uma trilha que passava bem próximo à nossa árvore. Passavam por essa trilha somente pessoas a pé ou a cavalo. E a velha árvore assistia a tudo já com uma certa preocupação.

Por volta de 1800, vários moradores de Calambau transformaram a trilha em um caminho por onde passavam as tropas e os carros de bois. A estrada já estava cada vez mais próxima à garapa. Muitas vezes os carreiros e os tropeiros paravam à sua sombra para descansarem. Aí ela ouvia a conversa deles e ficava sabendo dos acontecimentos em Calambau e em Piranga. Tomava conhecimento, também, do que acontecia em Mariana e Ouro Preto, onde os tropeiros iam levar os mantimentos produzidos na região, principalmente, açúcar mascavo e cachaça, trazendo, na volta, sal, querosene ,condimentos, etc.

À medida que o tempo passava, mais a estrada se aproximava de seu tronco. O movimento dos bandeirantes exploradores do ouro já estava diminuindo, pois o número de botes e canoas que iam e vinham de Piranga era bem menor. Por volta de 1930, por iniciativa do Padre Chiquinho, pároco de Calambau , e a ajuda da Prefeitura de Piranga, a estrada foi alargada pois, naquele ano, aguardava-se a passagem , pela primeira vez, de um automóvel. A nossa árvore ficou ansiosa, pois pelo que ouvira dizer através das pessoas que por ali passavam , o tal de automóvel fazia muito barulho e corria mais que um cavalo. Quando o automóvel passou debaixo dela, levantou muita poeira e, de fato, fez muito barulho, espantando o bando de maritacas que estavam pousadas em seus galhos.

Bem próximo à velha garapa aconteceu um assassinato, e ela presenciou tudo. O motivo foi uma simples discussão que se iniciou em uma vendinha que existia próximo ao córrego do Monteiro. Dois homens da região invadiram a casa do Mirico e o assassinaram debaixo da cama onde ele procurou se esconder.

No início da década de 30, quando o prefeito de Piranga era o Sr. Vilela, foi inaugurada a linha telefônica de Piranga a Calambau . O fio da linha telefônica foi pregado justamente no tronco da garapa. Foi aí que ela passou a inteirar-se de tudo que acontecia na região, ouvindo todas as conversas. De Calambau , as chamadas partiam sempre da casa do Sr. João Rosa. De Piranga, da Prefeitura Municipal. A garapa ouviu os pedidos para o Dr. Solon ir a Calambau atender os doentes; os resultados das eleições municipais; a comunicação de falecimentos ; a marcação de jogos de futebol, etc. A velha garapa era sempre bem informada...

Em janeiro de 1940, ela viu chegar os novos moradores da fazenda Baía. Era o jovem casal José Quintão Carneiro (Zé Carneiro) e Maria da Conceição Vidigal Carneiro (Cici). Eles chegaram de charrete e trouxeram a mudança em um carro de boi. Esse casal movimentou a região, pois o Zé Carneiro diversificou a produção da fazenda, gerando empregos. A Dona Cici ficou muito amiga das mulheres da região e transmitiu a elas muitos dos seus conhecimentos culinários, cuidados com a saúde, educação dos filhos, etc. O casal formou uma grande família na fazenda Baía, tendo os filhos: Murilo, Ilma, Neide, Marília, Ivone, Maristela, Marisa, Sônia, Elaine e Ernani.

A garapa era o ponto de referência da região: - “Encontrei com o João Arcino prá lá da garapa ; “a cerca está quebrada prá cá da garapa”; “o Antônio e a Mariquinha estavam namorando debaixo da garapa” ; e assim por diante.

Em 1959, a estrada seria melhorada e tão logo circulou a notícia, a garapa se viu em apuros, pois a estrada, provavelmente, se aproximaria mais de seu tronco. Dessa vez, era um trator que estava alargando a estrada. Quando este se aproximou da árvore, o Zé Carneiro, estando ali presente, pediu ao tratorista que a preservasse mantendo uma certa distância dela.

O tempo foi passando e a estrada seria asfaltada. O Zé Carneiro já havia falecido e o terreno onde estava situada a garapa já pertencia a herdeiros que já não tinham para com a árvore o mesmo sentimento dos que conviveram com ela por muitos anos. Desta vez não houve perdão. A velha garapa foi derrubada para dar lugar à nova estrada e, hoje, poucas pessoas se lembram dela.

Alguns pássaros dela ainda têm saudade. De manhã eles sobrevoam o local, na esperança de que ela surja com seus galhos exuberantes, onde eles possam pousar e cantar as suas lindas melodias ecoando por toda a região, tendo como cenário, ao fundo, o rio Piranga.

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Murilo Vidigal Carneiro

Calambau /junho/2013

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