Ser CALAMBAUENSE, é ter berço diferente! É recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.


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Data: 07/06/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: TEATRO EM CALAMBAU

TEATRO EM CALAMBAU



A comunidade calambauense sempre gostou de teatro. Antes da década de 40, o pessoal já fazia suas apresentações. A partir daí, com a chegada do Pe. Grossi, que assumiu a nossa paróquia em substituição ao Padre Chiquinho, o teatro teve um grande impulso.

Naqueles bons tempos, teatro e futebol sempre caminharam juntos. Quando o time de futebol saía para jogar nas cidades vizinhas, muitas vezes, era acompanhado pelo grupo teatral. A turma do teatro viajava na véspera da exibição que acontecia no sábado à noite e, algumas vezes, com reprise na noite de domingo.

Com a fundação da União Sportiva Educacional- U.S.E., em 1940, atletas e atores teatrais passaram a pertencer a essa agremiação. Quando o time da U.S.E saía para jogar em Piranga, Porto Firme, Brás Pires, Cipotânea, Capela Nova, Rio Espera, Senhora de Oliveira, Senador Firmino e, principalmente, Guaraciaba, a equipe teatral o acompanhava. Todos íam a cavalo . Se algum integrante da comitiva não tivesse o animal, a turma fazia uma vaquinha para alugá-lo.

O que incentivava essas apresentações nas diversas cidades eram os seus párocos nascidos em Calambau ou ligados à nossa cidade por laços familiares. Os párocos eram os grandes incentivadores do teatro em suas paróquias. O Pe. Grossi, de Cipotânea, sempre conseguia levar as turmas do teatro e do futebol a se exibirem por lá. O Pe. Dimas era pároco em Guaraciaba mas sua família era daqui. O mesmo acontecia com o Padre Francisco Fernandes, pároco de Rio Espera. Os demais párocos tinham alguma afinidade com os calambauenses.

Calambau recebia, também, os grupos teatrais daquelas cidades. Recordo-me da turma de Piranga, que aqui apresentou a comédia “O Dr. sabe tudo” de autoria do piranguense Sr. Reri. Nessa comédia o elenco era formado pelo próprio autor, pelo Napoleão Reis e outros atores dos quais não me lembro os nomes. O Sr. Reri escreveu várias peças teatrais. Cheguei a ler algumas que ele me emprestou. Por ser correntista da Minascaixa, empresa da qual eu era gerente, aqui em Calambau, eu sempre mantinha contato com ele. Resta ao super Marco de Nilo descobrir por onde andam esses trabalhos do Sr. Reri.

Lembro-me, ainda, de duas apresentações da turma do Seminário de Mariana que aqui fez grande sucesso.

Na área, atrás do prédio da Prefeitura velha, o Padre Grossi construiu um galpão com cobertura de sapé, um palco, e ali eram apresentadas as sessões teatrais de Calambau. Nos intervalos, o Padre arriscava algumas valsas no bandolim, acompanhado pelo Raimundo Elói no violão e o Inhô de Juca no bandolim. À meia noite ele avisava: - já é meia noite, quem for comungar, amanhã, não pode mais comer!

No local do teatro eram exibidas, também, peças infantis apresentadas pelos alunos das Escolas Reunidas Cônego Francisco Lopes, cuja diretora era a Professora Maria de Lourdes Carneiro Peixoto, a tia Lourdinha. Lembro-me das apresentações das peças Branca de Neve e os Sete Anões, e Chapeuzinho Vermelho. Dona Lourdes fazia as roupas dos personagens que encantavam a todos pela sua beleza e originalidade. A Professora Dona Pergentina Romualdo Quintão, também foi grande incentivadora do teatro local, tendo muitas vezes trabalhado em parceria com a Dona Lourdes. Outras professoras também dedicaram-se ao teatro na escola, destacando-se as professoras : Dona Aparecida Quintão (Aparecida de Ricardo), Dona Ignez de Carvalho Vidigal, Dona Rita Fernandes Vidigal e outras.

No início da década de 50, duas irmãs, a Tita Diogo e sua irmã Nenem, sempre apresentavam um número musical. Uma delas, se vestia de homem, formando um casal caipira, e cantavam a música Sinhá Marica e Sô Zé Coral. Nessa década, os homens, raramente, se apresentavam no teatro. Quando a peça requeria um homem, este era substituído por uma mulher em traje masculino. Antes ou depois das peças, eram apresentados “bailados” de moças ou meninas.

Fez muito sucesso, no teatro local, a peça “Garcia Moreno” que contava a vida do Presidente do Equador, nascido em 24/12/1821 e assassinado em 06/08/1875. Garcia Moreno foi Presidente por duas vezes. Foi assassinado no segundo mandato após ser eleito para o terceiro. Na sua administração, o Equador se tornou líder nos campos das ciências e alta educação na América Latina. Garcia Moreno foi, brilhantemente, interpretado nessa peça por Antônio Quintão Carneiro (Ninico Carneiro). Outra peça de sucesso foi “Mártir do Dever”, um drama em cinco atos, que conta a vida de um Padre que, também, foi assassinado em defesa da fé. Outros dramas, também, foram apresentados : “O Filho Pródigo” e “O Segredo do Padre Jeremias”. No drama “O Filho Pródigo” atuaram Silvério Vidigal, Valdivino Apolinário e outros.

Naquela época, em nossa acidade, os atores eram quase sempre as mesmas pessoas: Ninico Carneiro, Zizinho Peixoto, Matias de Moura, Tobias, Geraldo Diogo, José do Patrocínio Chagas, Gecelmino Henriques, Polichinha, Beraldo Quintão e o dentista Oto. Posteriormente, surgiram: Patiágua (Levindo F. Fernandes), Tadeu Carneiro Peixoto, Murilo Vidigal Carneiro, o garoto Toninho Carneiro, Zé Fernandinho (José Evangelista Fernandes).

No teatro feminino as apresentações também eram frequentes , destacando-se a peça “A Borboleta e a Abelha”, com Margarida Quintão (Margarida de Cacau) representando a borboleta; Pompéia Quintão (filha do Sr. Ricardo Peixoto e da Dona Edite), Cidinha, Belinha Quintão e Ilma Carneiro. Da peça “Manjedoura Vazia”, participaram Dores Carneiro, Cidinha Quintão e Corrinha de Zé Fernandes. Em “A Cigana me enganou” atuaram: Cidinha, interpretando a baronesa; Maristela Souza, a cigana; Nelma de Souza, a governanta, e ainda, Geraldino Nunes (Tostão), Consolação Nunes e D`Ângelo Fernandes.

No início da década de 60, com a vinda do Padre Vicente de Carvalho para a nossa paróquia, o teatro recebeu um grande incentivo. Na véspera do natal de 1963, estávamos ensaiando uma peça teatral, quando chegou a notícia do acidente que vitimou o Padre Vicente.

Esta é uma amostra do que foi o teatro em nossa comunidade. Muitas outras pessoas participaram dos elencos de muitas outras peças. O que foi apresentado é, apenas, uma pequena parte do resgate de nossa memória teatral, através de minhas lembranças e do depoimento de pessoas que, àquela época, participaram de eventos ligados à arte e ao entretenimento em nossa cidade.

Murilo Vidigal Carneiro – Calambau/maio/2013.


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