Ser CALAMBAUENSE, é ter berço diferente! É recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.


Contos, causos, poesias, pensamentos...

Data: 04/03/2013

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: AINDA OS TROPEIROS

Ainda os Tropeiros
#CoisasDeCalambau
por: Murilo Carneiro

Os tropeiros assim como os carreiros, eram pessoas admiradas na região, pois com suas andanças conheciam pessoas e hábitos diferentes, fazendo com que se tornassem conhecedores dessas diferenças e as transmitissem para o pessoal de suas localidades. Conheci alguns deles; outros, só por ouvir dizer.

Zé Placides foi um dos tropeiros da fazenda Água Limpa. Transportava, principalmente, a cachaça de igual nome, para Mariana e Ouro Preto. Também com ele viajavam os filhos do Sr. José Pedro Fernandes, o Sô Juquinha da Água Limpa, dono da tropa e da fazenda. Eram eles : Joaquim, Sebastião e Dino Fernandes.

Geraldino da Iva, com a sua tropa, fazia o mesmo trajeto. Além de transportar cachaça era, na época, o maior comprador de capados (porcos gordos) do município. Comprava os capados nas fazendas, e salgava-os para conservarem até o destino. As bandas (duas meta des do porco, depois de retiradas as vísceras e o sangue) eram penduradas nas cangalhas do burro, dentro das bolsas de couro, uma de cada lado. Faziam parte da banda, os pernis traseiros e dianteiros. Os lombos, costelas e suãs, também salgados, iam separados nas bolsas. Demoravam dois dias até chegarem a Mariana.

Quando menino, por várias vezes eu acordava cedo para assistir ao abate dos capados que meu pai Zé Carneiro vendia para o Geraldino. As barrigadas (tripas, buchos, fígados, etc.) eram vendidas para o pessoal que trabalhava na fazenda. O sangue ia, de graça, para fazerem chouriço. O dono dos capados, algumas vezes, comprava os lombos, as suãs e as costelas. Com o Sr. Geraldino da Iva trabalhavam, também, os tropeiros Ninico, Zezé e Onofre Vicente (seus cunhados).

Na tropa do meu avô, José Maria Carneiro, proprietário da Fazenda Seringa, trabalhavam os tropeiros Divino e Geraldino Lucas que auxiliavam o meu pai, José Carneiro, na condução da tropa. Esta tropa transportava cereais (milho, feijão e café) produzidos na fazenda, para Mariana, Ouro Preto e Viçosa. Algumas vezes, a tropa transportava cachaça para Mariana. Era a cachaça “Aurora” produzida na Fazenda Seringa.

O Celoca de Bacalhau, em sua tropa, levou muita cachaça para Mariana e Ouro Preto, principalmente a cachaça Alegria, produzida na fazenda Baía, propriedade do meu pai.

Quando fabricávamos cachaça, meu pai e eu vendíamos muita cachaça para o Celoca. Não me esqueço dos torresmos que ele fazia em sua trempe de tropeiro! O Celoca gostava muito da ”branquinha”. Algumas vezes eu lhe fazia companhia, antes de saborearmos os torresmos.

E os Moreira, lá de Vinte Alqueires? Os irmãos Marciano, Cristiano, Arlindo e Benzinho (apelido um pouco estranho...). Todos eles também excelentes tropeiros e cozinheiros. Cada um tinha a sua tropa. O Marciano era especialista no feijão com torresmo e farinha de milho (feijão tropeiro). Também, é lógico, todos adoravam uma boa dose de pinga. Afinal, quase todos os tropeiros que transportavam a pinga, também, gostavam da mesma. Para saberem se era boa, tinham que prová-la. E, assim, se tornaram grandes apreciadores...

Antônio de Celino, piranguense do Mata Onça, zona rural de Piranga, transportou por muitos anos, em sua tropa, a cachaça de Calambau para Pinheiros Altos, Bacalhau, Santa Rita, Lavras Novas, Mariana, Ouro Preto. Antônio foi o “último dos moicanos” com a sua tropa em nossa região. Transportava cachaça das fazendas Baía, Água Limpa, Ponte Alta, Fazendinha, Catas Altas (Zé Brasinho) e Bom Fim . Estas eram as que ele mais transportava. Depois de algum tempo, aposentou a sua tropa e passou a transportar cachaça em uma caminhonete.

O Antônio era um provador moderado. De vez em quando, eu filava o seu cafezinho, por sinal, muito bom.

Todos os tropeiros que transportavam pinga, carregavam sempre um carotinho. Assim era chamado um barrilzinho de 10 litros, que, na realidade, era de 12. Era um brinde da fábrica, transportado na mula madrinha (a que guiava a tropa) e de fácil acesso aos degustadores.

A maior parte dos tropeiros que partiam de Calambau, em direção a Mariana e Ouro Preto, faziam o seguinte trajeto: Mata Onça, Cunhas, Piedade, Córrego do Peixe, Lavrado, Pinheiros Altos, Mainarte, Padre Viegas (antigo Sumidouro), Mariana e Ouro Preto. Antes de chegarem a Mariana, os tropeiros oriundos de Calambau, geralmente, arranchavam em Pinheiros Altos e, algumas vezes, em Mainarte.

Esses foram alguns dos bravos tropeiros que, conduzindo uma tropa, muito contribuíram para o desenvolvimento da nossa região.


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