Ser CALAMBAUENSE, é ter berço diferente! É recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.


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Data: 24/10/2012

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: COISAS DE CALAMBAU- EM TEMPO DE ELEIÇÕES

Numa pequena cidade da zona da mata mineira, no ano de1988, estava acirrada, como sempre, a disputa eleitoral entre as facções do PMDB e do PDS.

Quinze dias antes das eleições não se comentava nada na cidade que não se relacionasse com o pleito que se aproximava. O Juiz Eleitoral da Comarca convocou uma reunião com os presidentes e mesários que iriam compor as mesas receptoras de votos.Nessa reunião, o Juiz frisou por várias vezes a responsabilidade dos presidentes, antes, durante e depois da votação.

Essa responsabilidade teria inicio desde o momento da entrega das urnas pela justiça eleitoral até o envio das mesmas ao correio, pelos senhores presidentes.

Naquele tempo, após a votação as urnas eram entregues ao correio e depois a justiça eleitoral as encaminhavam para o Forum da Comarca.

Juventino, homem honrado e conhecido na cidade pela rigidez no cumprimento de suas responsabilidades, não conseguiu dormir naquela noite. É que o mesmo havia sido indicado para presidir um das seções eleitorais. Era muito orgulho poder prestar serviços para a justiça eleitoral. E ele haveria de desempenhar muito bem a sua função, com honradez e muita lisura.

Às 07(sete) horas da manhã, o Sr.Juventino já estava à porta do Grupo Escolar, aguardando o momento de assumir a presidência da terceira seção. Às 7:30 horas, com ar solene, foi assumir o seu lugar no centro da mesa. A urna foi colocada no seu devido lugar, os materiais foram distribuidosaos mesários e tudo estava na mais absoluta órdem.Às oito horas, teve início a votação.

Tudo corria bem.O nosso presidente não cabia em si de contentamento. Até não queria sair para almoçar, pois como dissera o Dr. Juiz a responsabilidade da seção era toda dele.

Às 13 horas, apareceu uma funcionária da Prefeitura distribuindo uma vitamina de mamão para o pessoal que estava trabalhando na eleição.

Juventino tomou dois copos da vitamina e muito alegre, continuou o serviço.

Passados uns quinze minutos, ele notou umas fisgadinhas na barriga,acompanhadas de uns roncos. "Deus do céu! pensou Juventino, esta miserável barriga tinha que atrapalhar logo agora..."

A dorzinha foi apertando,as horas não passavam e o pobre coitado, já quase nãoaguentava esperar o encerramento da votação para ir ao banheiro.

Depois das cinco horas, que mais pareciam um século, o nosso amigo via chegado o momento de encerrar os trabalhos, entregar a urna ao Correio e, finalmente, correr para o banheiro de sua casa e, na maior felicidade, esvaziar o maldito intestino.

Tudo pronto, urna fechada, ata lavrada e assinada. Juventino levanta, coloca a urna debaixo do braço e segue em direção ao Correio, acompanhado dos fiscais dos dois partidos e de algumas pessoas que sempre aparecem nesta hora.

Mal colocou os pés na rua, o nosso amigo sentiu que não daria tempo para chegar ao Correio, pois a barriga doía muito e ele já estava sem forças para conter a fúria intestinal.

O que fazer? Juventino raciocinou rápido:a sua casa ficava a uns duzentos metros do local onde ele estava, e então, numa desabalada correria, abraçado à urna, partiu em direção a sua residência.

No princípio, os fiscais ficaram sem saber o que fazer, mas depois, saíram também correndo atrás do Presidente.

Este, quando chegou em sua casa, foi direto para o banheiro, mas antes de empurrar a porta, os fiscais que estavamao seu encalço o impediram de fechá-la. Juventino, mais que depressa, colocou os dois fiscais para dentro do banheiro, pediu que eles ficassem de costas, e abraçadinho à urna, sentado no vaso, vivia um dos momentos mais felizes da sua vida.

Juventino cumpria assim, a determinação do Dr. Juiz à risca: -A urna, até que seja entregue ao Correio, é de inteira responsabilidade do Presidente.





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