Ser CALAMBAUENSE, é ter berço diferente! É recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.


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Data: 19/04/2012

De: Murilo Vidigal Carneiro

Assunto: Explosão da ponte de Porto Firme ( 1.932)

A Noite D



"Seis de outubro de 1932, meia noite, todos já dormiam há horas na pacata cidade de Porto Firme – MG. De repente, começa um bombardeio ensurdecedor, bombas com os mais variados tipos de poder de destruição balançam a cidade. A população inteira pulou da cama assustada, sem entender nada, e começou a confusão e um corre-corre, cada um por si e Deus por todos.

José Santana e Tatão de Deco, de cueca, partiram correndo até “Passa Dez”, aliás, isto é tema de estudos até hoje, pois os dois venceram oito quilômetros em menos de trinta minutos, com baixa visibilidade.

- Estão invadindo Porto Firme – gritou o dentista prático João de Neco Oliveira - o diabo do Sô Tunico não deixou a menina Mariquinha casar com aquele tenente do exército, agora ele veio buscar a menina com o exército inteiro.

Na correria e nos clarões das explosões, Martinho Santana gritava:

- Sai fora gente, o exército americano veio para invadir Porto Firme! Descobriram que na Mina da Lavra, lá perto da “Biquinha”, tem muita raça de ouro, e no areal, perto da “Árvore Grossa” descobriram material radioativo de alto valor.

Bastião Lourenço, na pressa, pega um arreio coloca nas costas e parte para o lado das “Três Cruzes”; quando o arreio se prende numa cerca de arame, grita:

- Me larga tenente, me larga, pode levar a Mariquinha do Sô Tunico.

O Totonho do bode chegou esbaforido para o pai:

- Pai, sangue fede? Acho que estou ferido.

O Sô Tilico do Monjolo, pai de três meninas, vai para a varanda da casa, de gorro e pijama, com uma espingarda de boca larga nas mãos, daquelas tipo emboaba, e berra:

- Quem entrar aqui eu chumbrego fogo, aqui tem nêgo macho!!!

A espingarda tinha sido carregada, no dia anterior, com pedras, cacos de vidro, pregos e uns dois ou três chumbinhos.

Em dia de bombardeio sempre tem saques, e Totinho da Olaria aproveitou para surrupiar o galo de briga do Sô Juquinha Sacristão. Naquela época, toda casa tinha galinheiro, e as galinhas fizeram tanta bagunça que, mesmo naquela confusão, chamou a atenção do Sô Juquinha que correu para o terreiro dando de cara com Totinho e o galo nas costas:

- Que vergonha Totinho, aproveitando essa situação para roubar meu galo!!?

- Que isso Sô Juquinha!?... Ocê tá ficando doido!?... Que galo?

- Ora, este que está aí nas suas costas!!

- Pelo amor de Deus Sô Juquinha tira isto daqui... tira... tira... eu tenho pavor deste bicho, a bicada dele pode até cegar a gente, uai...

Pela manhã, todos correram para ver a cidade destruída e os possíveis prisioneiros, mas só a ponte que liga o lado de lá com o lado de cá, sobre o rio Piranga, tinha sido bombardeada".

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A verdade do fato: Na revolução de 32, o Décimo Batalhão de Cavalaria de Ouro Preto, vinha para destruir um foco de resistência comandado pelo Dr.Barbosa, com sede em Viçosa e Araponga. O grupo do Dr.Barbosa, resolve então, dinamitar a ponte de Porto Firme, para retardar a chegada do batalhão.

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Transcrito da Revista do CPT-Página: Beirada de Fogão

P.S.:Esta ponte era toda de braúna.Muito bem feita e muito bonita.



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