Ser CALAMBAUENSE, é ter berço diferente! É recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.


Contos, causos, poesias, pensamentos...

Data: 28/11/2013

De: JCBERNARDES

Assunto: Moeda, Dourado e Marinheiro

Moeda, Dourado e Marinheiro

Já era tardinha, crepúsculo. Estávamos, eu e dois companheiros, conversando na
calçada defronte do n. 71 da Rua Goitacazes quando subia pela rua um senhor como
que procurando algum endereço. Fixei o olhar nele e o reconheci. Pedi licença aos
companheiros.

- O senhor me permite? Eu o conheço.
- Opa! Disse ele. Eu não o reconheço.
- Sim, eu sei. Mas eu conheço muito o senhor, e tenho certeza que o senhor também
me conhece.

Desconcertado e surpreso, ele esboça uma saída.

- Eu não me lembro do senhor, é estanho.
- Então eu vou falar três palavras, três nomes, e o senhor recordará de tudo.
Ele deu um passo atrás.

40
- Oia moço, que coisa estranha. O senhor tá me deixando nervoso. Que é isso?
- Posso falar as três palavras?
- Pode, uai.
- Moeda, Dourado e Marinheiro!

Ele deu mais um passo para trás. Assustado, abriu os braços.

- Que é isso, moço. Ocê tá brincando comigo!

Um silêncio profundo. Os meus colegas, também assustados, tudo ouvia em
silêncio.

- Oia moço, o senhor me conhece mesmo, mas eu não sei quem o senhor é.

De repente ele explode de alegria.

- Pera aí, o que o senhor é do Seu Luiz?
- Sou filho dele, há muito tempo.
- Meu Deus! Nossa Senhora! Ocê é qual deles?... já sei, ocê é o Zezé, Zé Piaco.
- Sim sou eu.
- Ocê era muito pequeno! E o Seu Luiz, como ele está, e a Dona Luzia? Meu Deus
do Céu, Nossa Senhora! Santíssimo Sacramento! Que alegria, como tá todo mundo?

Depois de notícias alegres e tristes, expliquei aos atônitos colegas.

O meu pai tinha três animais de tropa; uma mula, a Moeda e dois burros, o Dourado
e o Marinheiro. Só ele lidava com os animais, dia e noite, a vida toda. Carregava
milho, capim, lenha, rapadura, banda de porco, tudo. Depois de se apresentar aos
colegas e contar alguns casos, João Carneiro disse-lhes que poderia ficar ali, a noite
toda, contando histórias e mais histórias do tempo em que trabalhava com o Seu
Luiz. Ao se despedir, comentou sobre ele:

- É o melhor homem que eu já conheci na vida. Nunca mais conheci outro igual a
ele. Boa noite.
- Boa noite.


Voltar